quarta-feira, 21 de maio de 2014

Esclerose Múltipla e o exercício físico

Muitas vezes não praticamos exercício físico porque não sabemos os seus benefícios e por desconhecimento do exercício certo para determinada patologia. Com este artigo o que a Personal Trainers Algarve pretende é clarificar a importância do exercício em pessoas portadoras de esclerose múltipla (EM).
 
A EM é uma doença degenerativa progressiva que compromete o sistema nervoso central (medula e encéfalo), de caraterística inflamatória crónica e provavelmente autoimune.

Atua sobre a bainha de mielina que envolve os axónios no neurónio, local onde ocorre a condução do impulso nervoso, incapacitando o individuo de realizar movimentos motores com destreza, pois se a bainha de mielina estiver lesada ou destruída, os impulsos nervosos ficarão mais lentos e, em alguns casos, interrompendo a sua transmissão, gerando a imobilidade parcial ou total.

A suscetibilidade genética e a influência ambiental talvez sejam responsáveis pelo aparecimento dos primeiros surtos. Até ao momento, não existe cura para a mesma, atingindo homens e mulheres numa faixa etária entre os 20 e os 50 anos.

Indicações de exercícios físicos para pessoas com esclerose múltipla
O conhecimento científico sobre a prática de exercícios físicos para pessoas com EM avançou significativamente nas últimas duas décadas. Nesse período, vários autores passaram a considerar a participação de pessoas com EM em programas que envolvessem exercícios em meio aquático, com cicloergómetros e com exercícios resistidos.

Entretanto, nessa perspetiva, os diferentes tipos de progressão da EM, a sua sintomatologia variada e os diferentes graus de incapacidade dificultam a elaboração de guias e padronizações para a orientação de exercícios para essa população. No entanto, os estudos mostram que indivíduos com leve a moderado grau de treino podem beneficiar-se com programas de exercícios físicos similares àqueles existentes para a maioria da população, de acordo com as orientações do American College of Sports Medicine (ACSM) (POLLOCK et al, 1998).

Considerando o crescente número de pesquisas com exercícios físicos para pessoas com EM e sua consequente indicação para a promoção de saúde e qualidade de vida dessas pessoas, deixamos-lhes algumas diretrizes básicas que consideramos pertinentes para a orientação de exercícios físicos para essa população.

O primeiro passo, antes de iniciar qualquer programa com exercícios físicos para pessoas com EM consiste em compreender o quadro clínico do cliente. Nesse aspeto, o seu médico deve ser consultado. O mesmo poderá fornecer informações precisas acerca do estágio de progressão da doença e das especificidades do quadro clínico atual. Poderá ainda indicar dificuldades e limitações fisiológicas peculiares de cada paciente, o que pode ser fundamental para a determinação de um programa adequado de exercícios.

A segunda etapa a considerar é verificar o histórico de atividades físicas e as principais dificuldades decorrentes de incapacidades. Informações sobre a adaptação de exercícios e preferências do indivíduo por alguma atividade específica são valiosas e devem ser registadas. A prática de uma atividade prazerosa pode influenciar favoravelmente na adesão ao treino.

Por último, destacamos a necessidade de avaliação da função motora. O estabelecimento de parâmetros para avaliação pode ser útil para quantificar a evolução do cliente. A atenção ao progresso da doença é importante para a orientação de exercícios físicos para pessoas com EM.

Se houver exacerbação dos sintomas, deve-se interromper o exercício até que ocorra a sua completa remissão. Após o retorno, o treino deve ser revisto e adaptado às condições presentes.

Na presença de indivíduos com tipo progressivo, ou seja, sem remissão da doença, a meta dos treinos deverá ser de simplesmente reduzir a deterioração física e otimizar as funções remanescentes (MULCARE, 1997).

Considerando as capacidades, limitações e objetivos pessoais de cada indivíduo pode-se estabelecer o programa mais adequado de exercícios físicos. De maneira geral recomendam-se exercícios de volume e intensidade moderada, com sessões em dias intercalados que permitam sua adequada recuperação.

Ainda assim, mesmo depois de muitos estudos feitos por vários autores, continua a não ser muito conclusivo, sendo amplamente discutido sobre a forma mais adequada de como proceder com os exercícios físicos, além da avaliação de seus reais benefícios. Até ao momento, a profilaxia dos mecanismos mais básicos da doença ainda não foram plenamente esclarecidos, sendo a estratégia multidisciplinar a forma de tratamento mais indicada, englobando diversos profissionais.

Não há ainda, evidências de que o exercício físico possa ajudar a retardar o progresso da desmielinização, sendo que nenhum estudo conseguiu obter um resultado plausível na melhoria do quadro inflamatório.

Contudo, a inserção dos exercícios físicos no tratamento da esclerose é justificada por três objetivos: facilitar a realização das tarefas diárias, a manutenção ou aumento da condição neuromuscular e da condição cardiorrespiratória.

A literatura tem indicado melhorias sensíveis na mobilidade, força e tolerância ao esforço (elevação do consumo máximo de oxigênio), moderada melhoria no humor (depressão, gestão de expectativas, medos), na fadiga e nos parâmetros cognitivos. Assim, parece haver uma melhoria na qualidade de vida, havendo uma resposta motora positiva aos estímulos dados pelos exercícios.

Mesmo apresentando baixas capacidades, é fundamental que se tente manter as funções que o paciente ainda dispõe, estimulando-as ao máximo pois, desta forma, o mesmo poderá desempenhar as suas tarefas do dia a dia com mais segurança e um mínimo de autonomia.

Além disso, a EM tem como caraterística marcante a fadiga prematura, tendendo a piorar, na medida que o paciente não se mantiver em movimento. Mais ainda, o quadro clínico agrava-se na medida que ocorre uma pioria da sua condição psicológica, podendo os exercícios físicos contribuir como forma de estabelecer novos desafios, metas a serem alcançadas, tentando estimular o paciente para voltar a realizar as suas tarefas diárias.

O resultado de estudos publicados nos últimos anos, tem apontado o aspeto salutar da adoção de um estilo de vida ativo por pessoas com EM. Desse modo, esperamos que a mudança do antigo paradigma de conservação de energia facilite às pessoas com EM a exploração e reconhecimento das suas capacidades e potencialidades, possibilitando a melhoria de aspetos da sua qualidade de vida e do seu desenvolvimento pessoal.

Finalmente, entendemos como fundamental que o profissional do exercício esteja preparado para o desafio de conduzir propostas de exercício físico para esta população, estando alicerçado pelo conhecimento mais recente de sua área e atento aos novos avanços.


Texto de Dora Pinto

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