Muitas vezes não
praticamos exercício físico porque não sabemos os seus benefícios e por
desconhecimento do exercício certo para determinada patologia. Com este artigo
o que a Personal Trainers Algarve pretende é clarificar a importância do
exercício em pessoas portadoras de esclerose múltipla (EM).
A EM é uma doença degenerativa
progressiva que compromete o sistema nervoso central (medula e encéfalo), de
caraterística inflamatória crónica e provavelmente autoimune.
Atua sobre a bainha
de mielina que envolve os axónios no neurónio, local onde ocorre a condução do
impulso nervoso, incapacitando o individuo de realizar movimentos motores com
destreza, pois se a bainha de mielina estiver lesada ou destruída, os impulsos
nervosos ficarão mais lentos e, em alguns casos, interrompendo a sua
transmissão, gerando a imobilidade parcial ou total.
A suscetibilidade
genética e a influência ambiental talvez sejam responsáveis pelo aparecimento
dos primeiros surtos. Até ao momento, não existe cura para a mesma, atingindo
homens e mulheres numa faixa etária entre os 20 e os 50 anos.
Indicações de
exercícios físicos para pessoas com esclerose múltipla
O conhecimento
científico sobre a prática de exercícios físicos para pessoas com EM avançou
significativamente nas últimas duas décadas. Nesse período, vários autores
passaram a considerar a participação de pessoas com EM em programas que
envolvessem exercícios em meio aquático, com cicloergómetros e com exercícios
resistidos.
Entretanto, nessa
perspetiva, os diferentes tipos de progressão da EM, a sua sintomatologia
variada e os diferentes graus de incapacidade dificultam a elaboração de guias
e padronizações para a orientação de exercícios para essa população. No
entanto, os estudos mostram que indivíduos com leve a moderado grau de treino
podem beneficiar-se com programas de exercícios físicos similares àqueles
existentes para a maioria da população, de acordo com as orientações do
American College of Sports Medicine (ACSM) (POLLOCK et al, 1998).
Considerando o
crescente número de pesquisas com exercícios físicos para pessoas com EM e sua
consequente indicação para a promoção de saúde e qualidade de vida dessas
pessoas, deixamos-lhes algumas diretrizes básicas que consideramos pertinentes
para a orientação de exercícios físicos para essa população.
O primeiro passo,
antes de iniciar qualquer programa com exercícios físicos para pessoas com EM
consiste em compreender o quadro clínico do cliente. Nesse aspeto, o seu médico
deve ser consultado. O mesmo poderá fornecer informações precisas acerca do
estágio de progressão da doença e das especificidades do quadro clínico atual.
Poderá ainda indicar dificuldades e limitações fisiológicas peculiares de cada
paciente, o que pode ser fundamental para a determinação de um programa
adequado de exercícios.
A segunda etapa a
considerar é verificar o histórico de atividades físicas e as principais
dificuldades decorrentes de incapacidades. Informações sobre a adaptação de
exercícios e preferências do indivíduo por alguma atividade específica são
valiosas e devem ser registadas. A prática de uma atividade prazerosa pode
influenciar favoravelmente na adesão ao treino.
Por último,
destacamos a necessidade de avaliação da função motora. O estabelecimento de
parâmetros para avaliação pode ser útil para quantificar a evolução do cliente.
A atenção ao progresso da doença é importante para a orientação de exercícios
físicos para pessoas com EM.
Se houver
exacerbação dos sintomas, deve-se interromper o exercício até que ocorra a sua
completa remissão. Após o retorno, o treino deve ser revisto e adaptado às
condições presentes.
Na presença de
indivíduos com tipo progressivo, ou seja, sem remissão da doença, a meta dos
treinos deverá ser de simplesmente reduzir a deterioração física e otimizar as
funções remanescentes (MULCARE, 1997).
Considerando as
capacidades, limitações e objetivos pessoais de cada indivíduo pode-se
estabelecer o programa mais adequado de exercícios físicos. De maneira geral
recomendam-se exercícios de volume e intensidade moderada, com sessões em dias
intercalados que permitam sua adequada recuperação.
Ainda assim, mesmo
depois de muitos estudos feitos por vários autores, continua a não ser muito
conclusivo, sendo amplamente discutido sobre a forma mais adequada de como
proceder com os exercícios físicos, além da avaliação de seus reais benefícios.
Até ao momento, a profilaxia dos mecanismos mais básicos da doença ainda não
foram plenamente esclarecidos, sendo a estratégia multidisciplinar a forma de
tratamento mais indicada, englobando diversos profissionais.
Não há ainda, evidências
de que o exercício físico possa ajudar a retardar o progresso da
desmielinização, sendo que nenhum estudo conseguiu obter um resultado plausível
na melhoria do quadro inflamatório.
Contudo, a inserção
dos exercícios físicos no tratamento da esclerose é justificada por três
objetivos: facilitar a realização das tarefas diárias, a manutenção ou aumento
da condição neuromuscular e da condição cardiorrespiratória.
A literatura tem
indicado melhorias sensíveis na mobilidade, força e tolerância ao esforço
(elevação do consumo máximo de oxigênio), moderada melhoria no humor
(depressão, gestão de expectativas, medos), na fadiga e nos parâmetros
cognitivos. Assim, parece haver uma melhoria na qualidade de vida, havendo uma
resposta motora positiva aos estímulos dados pelos exercícios.
Mesmo apresentando
baixas capacidades, é fundamental que se tente manter as funções que o paciente
ainda dispõe, estimulando-as ao máximo pois, desta forma, o mesmo poderá
desempenhar as suas tarefas do dia a dia com mais segurança e um mínimo de
autonomia.
Além disso, a EM
tem como caraterística marcante a fadiga prematura, tendendo a piorar, na
medida que o paciente não se mantiver em movimento. Mais ainda, o quadro
clínico agrava-se na medida que ocorre uma pioria da sua condição psicológica,
podendo os exercícios físicos contribuir como forma de estabelecer novos
desafios, metas a serem alcançadas, tentando estimular o paciente para voltar a
realizar as suas tarefas diárias.
O resultado de
estudos publicados nos últimos anos, tem apontado o aspeto salutar da adoção de
um estilo de vida ativo por pessoas com EM. Desse modo, esperamos que a mudança
do antigo paradigma de conservação de energia facilite às pessoas com EM a
exploração e reconhecimento das suas capacidades e potencialidades,
possibilitando a melhoria de aspetos da sua qualidade de vida e do seu
desenvolvimento pessoal.
Finalmente,
entendemos como fundamental que o profissional do exercício esteja preparado
para o desafio de conduzir propostas de exercício físico para esta população,
estando alicerçado pelo conhecimento mais recente de sua área e atento aos
novos avanços.
Texto de Dora Pinto